SALUTOGÉNESE: AS FONTES DA SAÚDE FÍSICA, ANÍMICA E ESPIRITUAL

Promover a saúde ou evitar a doença?

Michaela Glöckler – Tradução Fritz Wessling

Um ramo novo da ciência, chamado salutogénese, estuda as origens da saúde física, anímica e espiritual. A palavra latina salutogénese é composta pela palavra latina salus, salutis: saúde; e a palavra grega génese significa origem. A salutogénese pesquisa, pois, as origens da saúde, fundando assim também um novo paradigma, um novo ramo da pesquisa.

O paradigma na medicina em vigor aproximadamente nos últimos trezentos anos era a patogénese, composta pelas duas palavras gregas pathein: sofrer, e génese: origem, significando a origem do sofrimento, ou seja, da doença. A patogénese pesquisa, pois, a origem da doença. Neste contexto desenvolveu-se também o conceito da prevenção: prevenir doenças, no sentido da patogénese, significa evitar ou eliminar factores patogénicos. O que está em primeiro plano é como a doença aparece e como pode ser evitada, eliminando-se os factores patogénicos.

No espaço anglófono, o conceito de salutogénese tem vindo a ser desenvolvido desde os anos 60 do século XX. Na Alemanha, encontrou receptividade nos discursos académicos e da política da saúde apenas nos anos 90, seguramente, pelo menos em parte, porque até lá, o velho conceito da patogénese ainda tinha sustentabilidade financeira. A explosão dos custos na saúde, e as consequentes dificuldades financeiras, criaram, no entanto, a nível internacional, uma abertura para o conceito de salutogénese. A pergunta-chave é agora: de onde nos advém a saúde?, deixando de ser: de onde vem a doença, e como pode ser evitada?

Qual é então a diferença essencial entre o conceito novo da salutogénese e o velho da patogénese?

O conceito da patogénese baseia-se, por exemplo nas doenças infecciosas, no modelo do contágio. Eu pergunto-me: quem é que me contagiou? Como se chama o vírus, a bactéria? Qual o antibiótico indicado?

Do ponto de vista da salutogénese, porém, eu perguntaria: porque é que fui eu que apanhei a infecção quando toda a gente à minha volta continuou saudável? A questão de por que é que uns contraem o contágio e outros não já nos leva à pesquisa salutogenética.

Na sequência do desastre nuclear de Chernobil, por exemplo, verificou-se que uma elevada percentagem da população contraiu leucemia e cancro. Porque é que não ficaram todos doentes, pois a exposição era igual para toda a gente? O que protegeu alguns? Quais as fontes da saúde que ficaram activadas?

Saúde psico-social – uma perspectiva económica

Não só o Estado, mas também a esfera económica está muito interessada no princípio da salutogénese. Em 1994 foi assinado, na dita ronda do Uruguai no âmbito da WTO (Organização Mundial do Comércio – World Trade Organization), o acordo denominado GATS (Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços – General Agreement on Trade in Services), ou seja, um acordo geral que permite comercializar toda a vasta gama dos serviços sociais. Cento e vinte países já ratificaram o acordo e estão prontos a entregar os serviços sociais nas mãos da economia privada.

Por isso, os serviços sociais precisam de ser reestruturados, com maior transparência. Visando estes objectivos, foram desenvolvidos métodos de gestão de qualidade, servindo de base para a descrição exacta de cada serviço; por exemplo, o tempo que leva a execução optimizada de uma determinada tarefa de assistência pessoal. O problema que se põe aqui é que tudo o que não tem eficiência imediata deixa de ser pago. Dar atenção humana a alguém, dedicar-lhe individualmente algum tempo, por exemplo porque tem alguma pergunta importante a fazer, para além de precisar de ser acompanhado à casa de banho em tempo

recorde, são posturas que devem ser integradas no sistema como merecedoras de remuneração. Mas contra isso é levantado o argumento da escassez de meios financeiros. Sendo assim, o controlo de qualidade contribui efectivamente para uma maior eficácia no sentido economicista, mas contém o perigo de uma regulamentação total do trabalho social, inadequada para as verdadeiras necessidades do ser humano. Aqui abrem-se questões essenciais para a reestruturação da saúde no sentido moderno, virada para o futuro, sendo necessária a participação de iniciativas civis e associações de pacientes.

Leo Nefiodow demonstrou no seu livro “O sexto ciclo segundo Kondratieff” os ciclos da evolução económica, dando-lhes o nome do cientista russo Nikolai D. Kondratieff  (1892 – 1938). Este tinha detectado, em 1926, ciclos evolutivos, com ondas longas de 40 a 50 anos, constatando que cada 40 a 50 anos surge um impulso completamente novo, originando um salto inovador na economia mundial. Por volta de 1800 foi a máquina a vapor e a industrialização do processamento do algodão, depois veio a siderurgia e os caminhos-de-ferro, a seguir o petróleo, a petroquímica, e os automóveis, e por fim a indústria dos computadores e da informática. Estes impulsos determinaram, cada um por sua vez, surtos na actividade económica. O boom da indústria da informática prevê-se, no entanto, mais breve do que inicialmente se pensou. O que torna mais premente a questão de qual será o motor da próxima alta a nível económico. Tudo indica que será a saúde psico-social, ou seja, o mercado dos serviços sociais. Projectando para o futuro o aumento, nos últimos 2 anos, da dependência em relação a estupefacientes e medicamentos, segundo um estudo da Organização Mundial de Saúde, em 2100 um em dois habitantes dos países industrializados será tóxico-dependente. O que significa que 50 % da humanidade viverá com este vício e precisará de mais ou menos ajuda.

Na vida económica já se verifica hoje que as ausências motivadas por problemas psico-sociais são um problema crescente. As pessoas têm cada vez menos capacidade de encaixe, metem mais baixas, resistem menos. A estabilidade económica depende da saúde de um número suficiente de pessoas saudáveis. Por esta razão também a esfera económica se mostra interessada no conceito de salutogénese.

Para preparar isso, há que elaborar um sistema que permita descrever serviços concretos de tal modo que possam ser comercializados no mercado, e comprados pelos clientes. Assim, as instituições sociais, os lares de idosos, escolas e jardins de infância etc., vêem-se confrontados com a questão do controlo e da gestão da qualidade. Por um lado, aumentará – esperemos, a qualidade do trabalho e dos serviços, por outro lado, tudo passa a ser objecto de compra e venda, de uma forma muito diferenciada. A perspectiva da aproximação de uma sociedade tipo 20/80 (20% da população tem trabalho e toma conta dos restantes 80%) coloca o desafio, sobretudo para o movimento da Medicina Antroposófica, de trabalharmos para que a relação se inverta. 80% da população deveria estar saudável e activa, capaz de trabalhar com prazer e de gerar novos postos de trabalho consoante as novas visões macroeconómicas, politicas e sociais, para poder sustentar os 20% que não tem esta capacidade.

Devido à explosão dos custos na saúde, estamos hoje lado a lado com as esferas da política e da economia, para promover, tanto quanto possível, a saúde do homem.

Saúde – o que é isso afinal?

A salutogénese tem o objectivo de chamar a atenção das pessoas para as fontes da saúde e da cura, a nível individual e social.

Rudolf Steiner (1861–1925) postulou já em 1920, numa conferência para médicos, que o médico deve sempre considerar o bem de toda a humanidade, ao ajudar individualmente uma pessoa. Porquê? Cada ser humano faz parte de um todo e influencia este todo, quer tenha consciência disso ou não, pela maneira como lida interior e exteriormente consigo próprio e com as outras pessoas. Participa activamente na evolução da Terra e do Homem. Quanto mais eu for capaz de actuar a partir de uma perspectiva global – mesmo no pormenor mais ínfimo – quanto mais eu irei contribuir para o bem do todo. Quanto mais isolado eu estiver, quanto mais desconectados forem os meus actos, quanto mais eu corro o risco de contribuir para as patologias no processo da evolução. Tornar-se saudável, “são”, “inteiro”, significa integrar-se. A doença é sempre consequência do isolamento ou da desintegração de determinados processos, funções ou substâncias no organismo.

Sendo assim, temos a tarefa de seguir com os nossos pequenos actos no quotidiano os grandes desígnios da humanidade, não os perdendo de vista.

Aaron Antonovsky (1923–1994), o pai do paradigma “salutogénico” desenvolveu critérios de qualificação da saúde física e psicológica das pessoas, para realizar um estudo sobre o estado de saúde das pessoas idosas em Israel. Qual o seu espanto quando constatou que entre as pessoas mais saudáveis que encontrou havia também sobreviventes do holocausto.

Abraham Maslow (falecido em 1970), um dos fundadores da psicologia e psicoterapia humanista, junto com Carl Rogers e Erich Fromm, encontrou também surpresas ao pesquisar a saúde psicológica. À procura das causas da mesma, examinou pessoas saudáveis e descobriu que aqueles que revelavam maior saúde tinham todos passado por experiências interiores de romper limites, por exemplo, vivências espirituais, possivelmente extra corporais, um encontro com Deus ou outras vivências místicas. Descobriu ainda que mesmo a alma assolada pela doença psíquica possui um núcleo saudável. Ao conseguir fortalecer este núcleo, a pessoa lidará melhor com os problemas e influenciará mais saudavelmente as pessoas à sua volta.

Uma outra abordagem na “salutogénese” pesquisa a resistência das pessoas, e descobriu que a hereditariedade e o ambiente não são os únicos factores determinantes na evolução da pessoa. Há um terceiro factor, até agora subestimado, mas de importância fulcral: o factor das relações humanas. O que caracteriza boas relações entre pessoas?

Há três aspectos que caracterizam a essência da qualidade humana:

  •   Honestidade, sinceridade, verdade;
  •   Amor;
  •   Respeito pela autonomia e dignidade do outro, mesmo que se trate de um bebé ou de uma pessoa dependente de ajuda.

Caso uma criança possa vivenciar uma tal boa relação – mesmo que seja com apenas uma pessoa ou apenas num determinado período da infância – poderá fazer uma evolução anímica saudável, mesmo quando existem condicionantes muito desfavoráveis como agressões físicas à noite e o abandono durante o dia. Quando existe uma verdadeira e profunda relação com alguém, a saúde anímica não precisa de estar necessariamente posta em causa, pelo contrário, uma tal criança poderá até desenvolver uma sensibilidade e compaixão especiais.

O livro “Plus fort que la haine”, que teve muito impacto em França, é um magnifico exemplo disso. “Mais forte que o ódio” narra o amor e a humanidade vivenciados numa família de apoio por uma criança com apenas três anos, extremamente traumatizada e abandonada, durante preciosos três meses. Esta vivência é marcante para o resto da sua vida e permite-lhe identificar-se com a bondade e o carinho. “Fortalecer a criança: pedagogia entre risco e resistência” é o título de uma publicação alemã que analisa numerosos estados sobre a qualidade da vida de numerosas crianças, demonstrando como se lançam os alicerces para a saúde durante toda uma vida.

Fontes físicas, anímicas e espirituais da saúde.

Quais são os resultados principais das pesquisas de Antonovsky sobre a salutogénese, de Maslow sobre a saúde psicológica, e dos estudos sobre a resistência? Podemos resumi-los em três aspectos centrais, ou seja, 3 princípios que ajudam a desenvolver a saúde.

A nível físico, trata-se do princípio da heterostase. A palavra é composta do grego hetero: diferente, e latim stase: estado, significando outro estado. Pelo contrário, a palavra homeostase, do grego homeo: igual ou parecido, designa o estado semelhante ou igual.

Segundo o modelo da patogénese, o organismo pretende conseguir um ambiente tão constante quanto possível, no sentido da homeostase, o que sem dúvida é importante – a questão é como este objectivo será alcançado.

Segundo o modelo da salutogénese, o que marca o organismo saudável não é a homeostase, mas sim a capacidade de transformar constantemente os processos heterostáticos em homeostáticos, possuindo um elevado grau de adaptabilidade e aptidão para fazer processos.

O aspecto central do princípio salutogénico é pois a capacidade humana de ir ao encontro do estranho e do conflito, fortalecendo-se nesta interacção. O princípio da heterostase significa pois aprender a lidar com o stress e não apenas evitá-lo. Há que aprender a conhecer e ampliar os limites da própria resistência física e anímica.

Este princípio da salutogénese corresponde ao conselho que a medicina antroposófica tem dado desde sempre: para as crianças é salutar passar pelas ditas doenças infantis. Estimula o desenvolvimento do sistema imunitário, a capacidade de auto regulação e auto terapia.

Obviamente devemos sempre perguntar se a criança individual tem resistência suficiente para o confronto com a doença. A avaliação caberá sobretudo ao médico. Se a constituição da criança for tão frágil que não se pode expô-la a este confronto, fará naturalmente sentido recorrer às vacinas ou também a medicamentos para baixar a febre, e antibióticos. No entanto, importa não impedir o contacto com as doenças infantis por meio de grandes campanhas de vacinação, privando assim a criança da oportunidade de adquirir novas resistências de maior alcance.

Uns conselhos típicos, de acordo com o princípio da patogénese: vacina-te contra todas as gripes virais, foge, tanto quanto possível, ao stress e aos aborrecimentos, mete baixa, toma este ou aquele comprimido logo que te sintas menos bem.

Para a salutogénese, são decisivas as seguintes questões: como aprendo a lidar com qualquer situação na vida, mantendo a minha flexibilidade interior e exterior? Como posso tornar-me tolerante a frustrações e ao stress, e estável no meu carácter?

No âmbito anímico, trata-se, de acordo com a salutogénese, de criar um sentido de coerência, de interligação de tudo o que existe. Só quando a pessoa conseguir integrar-se no contexto grande e pequeno do universo da sua vida, poderá encontrar o sentido desta vida.

Como se adquire este sentido de coerência? Antonovsky diz simples e singelamente: a criança precisa de aprender, pela sua educação, uma cosmovisão satisfatória. Deve poder aprender que o mundo é:

  • Compreensível.
  • Significativo; valioso, repleto de sentido.
  • Manuseável, permitindo a acção.

Neste sentido, uma cosmovisão torna-se satisfatória quando ajuda a pessoa a encontrar-se a si própria e a lidar com a vida de uma maneira que faz sentido. Por exemplo, houve, depois da 2ª guerra mundial, muitas crianças sobrecarregadas de medos, devido a vivências próprias, ou relatos de adultos, que tinham vivido horrores, como o lançamento das bombas nucleares sobre o Japão. Nestes casos, é decisivo haver pelo menos uma pessoa compreensiva ao dispor, para ouvir as perguntas e para ajudar a construir o sentido de coerência. Assim, será possível conviver com estes medos e preocupações e criar esperanças de que se possa contribuir para a superação dos medos bem como das causas das guerras. Hoje, muitas crianças e jovens sentem-se assim no pós-11 de Setembro. Conversas, reportagens e informações tão diversificadas quanto possível são uma coisa necessária para que o sucedido possa ser compreendido e digerido.

De acordo com a idade da criança, torna-se decisiva, sobretudo, a presença de uma pessoa próxima – de preferência, mãe ou pai, – que vivenciou tudo, tem tudo na consciência, e mesmo assim irradia esperança e optimismo. Ajuda imenso ver que alguém pode conhecer grandes perigos e graves problemas, passar por eles, e mesmo assim irradiar alegria e normalidade, dizendo sim à vida.

Há muitas maneiras de contribuir para a consolidação deste sentido de coerência, desde pequeno. Nas escolas Waldorf, por exemplo, é recitado pelos alunos e professores em conjunto, todas as manhãs, antes da primeira aula, o dito “Verso da Manhã”, da autoria de Rudolf Steiner, o fundador da pedagogia Waldorf, e recomendado para alunos a partir do 5º ano.

Eu contemplo o mundo à minha volta
Onde o sol envia a sua luz,
Onde as estrelas brilham,
Onde as pedras repousam,
Os animais sentindo vivem,
Onde a alma do homem
Oferece acolhimento ao espírito.
Eu perscruto nas profundezas da alma,
Que vive dentro de mim.
O espírito divino tece
No sol e na luz da alma,
Lá fora nos espaços do mundo,
Cá dentro, nas profundezas da alma.
Até vós, ó espírito divino
Quero dirigir-me,
Pedindo bênçãos e forças,
Para que desabroche na minha alma
O aprender e o trabalhar.

Numa cosmovisão, não importa transmitir uma determinada visão das coisas, como fazem, no essencial, as ideologias. O que importa é o processo interior de crescimento, pelo qual as pessoas se unem cada vez mais ao que se passa no mundo, aprendendo e trabalhando continuamente, e fortalecendo a compreensão.

Mesmo assim, para fornecer o sentido de coerência na criança, é decisivo o exemplo dado pelo adulto que por sua vez trabalha para consolidar o sentido de coerência em relação a si próprio e ao mundo. Esta é uma das tarefas mais importantes da nossa época, designada 5ª época pós–Atlântida e que começou, segundo Rudolf Steiner, no início do século XV. O que a caracteriza é, segundo Goethe, o pacto com o mal, o pacto entre Mefistófeles e Fausto: tudo aponta para que o confronto interior e exterior com as forças e inclinações do mal seja uma missão para a nossa época. Basta considerar a imensa violência e destrutividade divulgadas pelos média, pela televisão e pelo vídeo, para compreendermos que ninguém que tenha a auto-consciência desperta pode esquivar-se a isso.

Quando reconhecemos o mal, o perigo de segui-lo ou de deixar que o mal nos domine é menor. Cresce a hipótese de, ao reconhecer e superar o mal, desenvolvemos maneiras de pôr em prática o bem, o amar, a verdade. Um antigo provérbio chinês diz: Há apenas duas maneiras de se tornar sábio : pela compreensão ou pela experiência sofrida.

O terceiro desafio decisivo – o mais difícil para aprendermos hoje, é de construirmos resistência a nível espiritual, pela confiança que desenvolvemos, no decorrer e no sentido da evolução da humanidade, especialmente hoje. Quantas pessoas não existem hoje que caem na depressão por terem perdido a confiança na evolução, em Deus e no Homem. Para muitos, torna-se insuportável a informação constante sobre atrocidades, violência, corrupção, guerras, catástrofes. A consequência é ou doença, drogas, abuso de medicamentos, ou actos desesperados como o terrorismo ou o suicídio.

Há que construir uma cosmovisão que ajude a compreender o mal, o negativo, o destrutivo, e a encontrar um novo sentido para tudo. Hans Jonas (1903–1984), um filósofo judeu, contemporâneo e colega de Aaron Antonovsky, marcou presença no debate ético do século XX com o seu “princípio da responsabilidade”. Um sentido de responsabilidade de cunho humanista, que aposta na dignidade humana, está no centro da sua filosofia. A mãe de Hans Jonas tinha perdido a vida em Auschwitz, nas câmaras de gás – um facto incompreensível para ele, judeu crente. Pois, de acordo com a tradição judaica, Deus vive na história, actua na história, acompanha a humanidade no processo histórico. Deus torna-se, por assim dizer, vivenciável na história, e não castiga os justos. No pós-Auschwitz, Jonas teve de interrogar-se: onde estava Deus, quando Auschwitz aconteceu? Virou as costas à humanidade, abandonou-a? Será que Deus nunca existiu? Ou será que Deus modificou a sua relação com a humanidade, acompanhando a evolução desta? Por via de questões como estas, Jonas chegou a um conceito de Deus processual, evolutivo, descrito no seu livro “O conceito de Deus no pós–Auschwitz. Nesta obra pergunta: Deus pode ser, ainda, universalmente sábio e omnipotente, depois de o holocausto ter acontecido? E constata que Deus, em relação ao homem, já não pode ser universalmente sábio e omnipotente, porque assim o holocausto nunca teria acontecido. Deus partilha a sua sabedoria e potência com o homem dando-lhe a chance de optar em liberdade pelo bem, mas também a possibilidade de errar e enveredar pelos caminhos mais aberrantes. Agora é o homem que precisa de saber o que faz. Ele, não Deus, é responsável pelo que faz com as próprias mãos. Jonas descobre a região do meio como o lugar onde reside a humanidade. É a região do coração, da consciência moral, do amor, que é compatível com a liberdade do homem e com a sua autonomia cognitiva. Só nesta região é possível uma relação estável entre o homem e Deus, desde os primórdios da criação até ao dia de hoje. O conhecimento e o poder podem ser abusados. Servem ao homem para que desenvolva as capacidades, e a consciência de si. Mas o amor é. Caracteriza o núcleo eterno no homem ao qual Deus permanece ligado, mesmo em Auschwitz. Deus é amor. Este Deus pode estar presente em Auschwitz, acudindo a quem estava nas câmaras de gás. Este “conceito de Deus pós–Auschwitz” salvou a imagem que Jonas tinha de Deus. Ao mesmo tempo, este conceito de Deus é o princípio salutogenético mais forte. Mobiliza todos os recursos de resistência do homem. Dá resposta à pergunta: como posso manter-me saudável, face aos ataques físicos, anímicos, e espirituais? Há três princípios fundamentais.

Três princípios fundamentais.

O primeiro princípio significa cultivar conscientemente uma relação com Deus e com o mundo espiritual: eu estou em Deus e Deus está em mim. Tal como Soljenitsine descreveu no seu “Arquipélago de Gulag”, quando um soldado russo está prestes a pisar-lhe o rosto com a sua bota suja. Está deitado no chão, vê aquela bota aproximar-se, e pensa neste momento: podes, sim, destruir o meu corpo, mas ao meu espírito não chegas. O recurso de resistência mais forte é a vivência de Deus, a vivência mística, ou também a vivência da própria identidade como Eu, como ser eterno.

O segundo princípio da invulnerabilidade, mobilizador dos recursos de resistência, é o princípio da relação humana. Pessoas em situações extremas relatam com grande frequência que só conseguiram vencer graças ao sentimento de ligação profunda com uma ou várias pessoas. Soubemos, por exemplo de Nelson Mandela, que aquilo que o manteve durante os largos anos na prisão foi a certeza que lá fora a sua mulher continuava na luta. As relações estreitas, calorosas e seguras, seja com o pai, a mãe, os avós, amigos, companheiros, esposos, dão-nos um sentido de protecção: já não nos sentimos sós, abandonados, nem por um momento, pois este amor envolve-nos, sustenta-nos o tempo todo. Esta força pode também emanar de uma relação estreita com um falecido. Quem vivenciar esta força, oferecendo-a aos outros, será capaz de resistir às situações mais adversas. Saberá que vale a pena viver, apesar do pesadelo que está a vivenciar no momento e que passará com o tempo.

O terceiro princípio evidenciado em dados estatísticos, nas pesquisas sobre a salutogénese, está relacionado com as posses e com o dinheiro. Quem tiver por exemplo uma moradia de luxo em Maiorca, ou uma conta bancária bem recheada na Suíça, sentir-se-á também reforçado na sua capacidade de resistência. Sabendo que pode gozar a vida em cheio, graças a estes recursos materiais, logo que tenha saído da situação actual adversa, terá maior resistência.

O que estes três princípios têm em comum é a segurança, identificação e o sentido existencial do ser que transmitem, a nível material, anímico e espiritual.

Abrir fontes de saúde – a nova missão da medicina

O princípio basilar da salutogénese, norteado pela heterostase e pela autodefesa imunológica do organismo, traz uma renovação ampla em todos os campos da medicina moderna. Isso inclui a alimentação saudável, com alimentos de cultivo natural e forte vitalidade. Digeri-los e transformá-los em substância própria do corpo exige ao organismo mais esforço que a ingestão de legumes enlatados, ou vitaminas artificiais. Tudo o que é pré–cozinhado, pré–digerido, sintético e pronto para comer não estimula suficientemente a actividade própria do organismo. Activar, não poupar esforço é o princípio basilar da alimentação saudável. Os medicamentos antroposóficos têm também a meta de invigorar a resistência própria do paciente. Curar-se não é um processo que queremos poupar à pessoa – os medicamentos ajudam o organismo a desenvolver e mobilizar sua resistência e capacidade de auto – cura.

Educar adequadamente a criança é saber estabelecer limites de acordo com a idade e ajudar na auto–experiência e no auto–desenvolvimento. Para a criança, é importante saber entre as pessoas conhecidas de exemplos que a ajudem a assumir desafios e lidar com as dificuldades. As crianças precisam da possibilidade de medir as suas forças no confronto com os adultos próximos, para poderem vivenciar e consolidar as suas capacidades.

Uma boa educação prima pela honestidade, amor e respeito pelo outro. Nisto, a honestidade constitui a base, pois o amor e a autonomia, por muito importantes que sejam, carecem de chão quando não são acompanhados pela honestidade – por assim dizer, o amor a nível cognitivo. Pelo pensamento claro (que equivale saúde a nível mental) a criança aprende a integrar-se e orientar-se no contexto do mundo.

Quando uma criança partiu um brinquedo, vai ter com um adulto, e pergunta, confiante: “Podes compor-me isto?”. “Compor”, curar, significa também restituir a integridade. Saúde significa integração, harmonia afinada de todas as funções. E significa tudo o que é são, sagrado em nós.

A Antroposofia como ciência da alma e do espírito humano pode ligar-se, até ao pormenor, a este novo conceito da salutogénese. O que significa uma responsabilidade, sobretudo dos pedagogos e médicos antroposóficos, no sentido de contribuirem com pesquisas próprias para que este conceito seja mais divulgado e posto em prática. Requer ainda considerar a realidade espiritual no actual debate médico e científico, não isolando o espírito como “transcendental” ou remetendo-o em exclusivo aos teólogos e filósofos.

A saúde do homem moderno depende, numa parte decisiva, da ideia que tem de si como ser humano, e do caminho de desenvolvimento pessoal que trilha. Pelo que iremos concluir estas considerações com a perspectiva da auto–educação.

Saúde hoje e amanhã

Cada um pode aprender a ser mais saudável, mais humano, tomando consciência da existência divina – espiritual, e despertando-a em si. O como fazer foi indicado por Rudolf Steiner graças à sua experiência no campo da auto–educação. Nos seus livros “Conhecimento dos Mundos Superiores”, “Ciência do Oculto” e “Teosofia” expõe no entanto claramente que a aquisição de conhecimentos, o impulso do auto–desenvolvimento superior, e a prática meditativa só serão benéficos se houver vontade de tornar frutíferos para a via quotidiana os resultados destes trabalhos. Auto–desenvolvimento, neste sentido, significa adquirir experiências na vida e descobrir a vida com todas as facetas, altos e baixos. Como é que queremos, afinal, aprender qualidades humanas tão magníficas como a veneração, a calma interior, a coragem e optimismo, esperança, lealdade, devoção, amor, verdade, e até aquela autonomia que também respeita profundamente a autonomia do outro, sem que estas qualidades se afirmem no quotidiano, e sem que o próprio quotidiano os tenha moldado e posto à prova? Nas palavras de Steiner: “para muitas pessoas, a vida comum já constitui por si um processo iniciático, mais ou menos inconsciente, por meio da prova do fogo. São aquelas que passam por experiências ricas desse tipo, cuja autoconfiança, coragem e perseverança crescem de maneira sadia; elas aprendem a suportar dor, decepção, fracasso de empreendimentos com grandeza de alma e, notadamente, com calma e força inabaláveis. Quem passou por experiências desse tipo já é muitas vezes um iniciado, sem que o saiba nitidamente; falta, então, apenas pouco para que se lhe abram os ouvidos e os olhos espirituais, vindo ele a tornar-se um clarividente”.

O caminho iniciático segundo a antroposofia existe para possibilitar a iniciação de todos aqueles que a procuram consciente e activamente. Começa com o pensamento sobre um facto ou sobre uma qualidade que se pretende aprender. Podemos com toda a calma trazer esta qualidade ante a imaginação, avaliar a nossa própria experiência de vida, e reflectir em que medida é que já conseguimos realizá-la e as condições que teremos de criar para desenvolvê-la mais ainda. Para isso, há a possibilidade da meditação regular sobre tais qualidades no pensar ou no sentir, e há também a hipótese de exercitá-las, propositadamente, no quotidiano, durante determinadas semanas ou meses, i.e. praticá-las sistematicamente, na ocasião de certas actividades, situações de diálogo ou encontros com pessoas. Assim aprendemos que os pensamentos são realidades, pois experienciamos que algo que inicialmente existia apenas no nosso pensar, passa agora, aos poucos, a fazer parte das nossas qualidades e da nossa identidade. Assim vivenciamos como o nosso ser é despertado, anímico–espiritualmente, para uma cada vez maior clareza, tanto nos pensamentos como os sentimentos. No entanto, também vivenciamos como qualidades negativas, egoístas ou ligadas aos instintos inferiores, também se intensificam, opondo-se ao trabalho em curso. Isso por um lado tem a ver com a maior sensibilidade e percepção que desenvolvemos em relação aos aspectos negativos, no seu contraste com as qualidades positivas. Por outro lado, devido aos exercícios, a nossa parte anímico–espiritual torna-se mais livre e autónoma em relação ao corpo, que assim se transforma numa base mais forte, com os seus impulsos e instintos inatos.

Por isso é essencial respeitar na vida certas condições que providenciam um bom equilíbrio, e formam a base de bons hábitos que nos apoiam nos altos e baixos da vida. São estas as chamadas “sete condições para o desenvolvimento oculto”. Queremos explanar aqui, no final, estas condições, pois constituem ao mesmo tempo sete posturas éticas que poderemos praticar sozinhos ou em conjunto com os outros. Ajudam-nos a encontrar as fontes de uma relação ética e moral profunda com o ser humano e com o mundo, para que possamos receber dela saúde física, anímica e espiritual.

“Cumpre frisar que de nenhuma dessas condições se exige um integral cumprimento, mas simplesmente o aspirar a tal cumprimento. Ninguém é capaz de cumprir integralmente as condições; porém, pôr-se a caminho do seu cumprimento, isso cada um pode fazer. O que importa é a vontade, a intenção de pôr-se nesse caminho. “

Sete condições para um desenvolvimento saudável.

“A primeira condição é a seguinte: dedique a sua atenção em aprimorar a saúde corpórea e espiritual. Naturalmente, o quão sadia uma pessoa é não depende, antes de tudo, dela. Todavia, pretender melhorar nesse sentido, disto cada um é capaz. “

Isto poderia levar-nos a crer que estamos a ser instruídos para sermos mais egoístas a respeito da nossa saúde. Mas o texto descreve a seguir como podemos encontrar uma relação justa como o prazer – e com o dever. O corpo e a alma esforçam-se nas lidas do trabalho diário, e pode acontecer que, em prol do dever, desconsideramos a saúde. Talvez “saltemos” uma refeição, ou trabalhemos noite adentro, para que as coisas avancem. Quer dizer, por vezes, o trabalho pede-nos um certo desrespeito pela saúde. Esta tendência de enfraquecermos a saúde deverá ser equilibrada pela justa relação com o prazer. Podemos aprender a viver o prazer intensamente, mas de modo a dar-nos a força para trabalhar melhor e com mais contentamento. Trata-se de aprender a não procurar o prazer como finalidade em si (que nos tiraria forças), mas a viver o prazer de modo a oferecer-nos mais força e motivação para a vida e para o desenvolvimento. Para as pessoas que mal sabem sentir o prazer, é importante ter bem claro o facto de o prazer constituir uma condição. Alma e corpo precisam do prazer. O problema é apenas saber manter o processo bem consciente, e por exemplo encontrar o momento para parar de comer, de acordo com o lema: “devemos parar de comer quando sabe mesmo bem”. Se procurarmos o prazer para além do ponto culminante, ou com a ajuda de drogas ou substâncias prejudiciais para a saúde, teremos de procurar outras fontes para a nossa recuperação.

“A segunda condição consiste em sentir-se qual um membro toda a vida existente. No cumprimento desta condição está encerrada muita coisa. Mas cada um só pode cumpri-la à sua própria maneira. Se sou o seu educador e o meu aluno não corresponde àquilo que almejo, tenho então de voltar o meu sentimento não contra o meu aluno, mas contra mim mesmo. Tenho de sentir-me uno com o meu aluno a ponto de perguntar a mim mesmo: “por acaso aquilo que no meu aluno é insatisfatório não é uma consequência do meu próprio agir? ”Ao invés de voltar o meu sentimento contra ele, farei reflexões no sentido de como eu próprio deverei portar-me, a fim de, futuramente, o aluno poder corresponder melhor às minhas exigências. A partir de tal mentalidade modifica-se, paulatinamente, todo o modo de pensar do ser humano. Isto é válido tanto para o menor como para o maior. A partir de tal mentalidade enxergo, por exemplo, um criminoso de forma diferente do que sem a mesma. Refreio os meus julgamentos e digo a mim mesmo: “sou apenas um homem como esse. A educação que circunstancialmente tive talvez me haja livrado do seu destino”. Certamente também chegaria ao pensamento de que esse meu irmão se teria tornado outro se os professores que comigo despenderam os seus esforços os tivessem dedicado a ele. Conscientizo-me de que a mim coube algo de que a ele foi privado, e de que devo o meu bem-estar precisamente à circunstância de que ele foi privado. E, então, não mais estarei longe da noção de que sou apenas um membro de toda a humanidade e co-responsável por tudo o que acontece.“

Quem pratica esta condição, vai notar o poder elevado (por vezes até assustador) que exerce. Quando alguém me irrita e eu resolvo pagar com a mesma moeda, a situação entrará facilmente em escalada, ou dará origem a mau ambiente. Mas por exemplo quando alguém nos trata injuriosamente, não precisamos de nos deixar levar a reagir ao mesmo nível; podemos lidar com o sucedido interrogando-nos: o que é que posso contribuir para que a pessoa possa revelar um lado melhor? Ou o que deve ter acontecido àquela pessoa (talvez uma experiência em casa…) para que me viesse a falar com tanta baixeza e sem inibição? Mesmo quando não encontro respostas, o facto de termos colocado tais perguntas de uma forma sincera e sem passar logo a condenar o outro, já é um passo significativo. Não é raro o outro, passado algum tempo, modificar o seu comportamento.

“Outro aspecto do desenvolvimento oculto está estreitamente relacionado com esta terceira condição para a disciplina do oculto. O discípulo terá de lutar para elevar-se à concepção de que os seus pensamentos e sentimentos têm tanta importância para o mundo como os seus actos. Terá de reconhcer o facto de que é tão pernicioso odiar seu semelhante como nele bater. Isso leva também a reconhecer que não faço apenas algo por mim quando me aperfeiçoo a mim mesmo, mas também em prol do universo. O universo tira dos meus sentimentos e pensamentos puros tanto proveito quanto da minha boa conduta.”

A quarta condição consiste em adquirir “a concepção de que a verdadeira entidade do ser humano não reside no exterior, mas no interior. Quem se considera só um produto do mundo exterior, um resultado do mundo físico, nada alcançará na disciplina do oculto. Sentir-se como um ser anímico–espiritual é um fundamento para tal disciplina. Quem avança para tal sentimento

será capaz de discernir o dever interior do resultado exterior. Aprende a reconhecer o que não pode ser medido directamente pelo outro. O discípulo terá de encontrar a correcta posição central entre o que as condições exteriores impõem e o que ele reconhece como certo para sua conduta. Não deve impor ao seu meio ambiente algo para o qual este não pode ter compreensão alguma; mas também deve estar totalmente livre do vício de só fazer o que é aprovado por esse meio ambiente. A aprovação para as suas verdades, ele terá de procurar unicamente na voz da sua alma honesta e que luta em busca do conhecimento. Contudo, deve aprender de seu meio ambiente tanto quanto possível, afim de descobrir o que lhe convém e é útil. Dessa forma desenvolverá, em si próprio, aquilo que se denomina na ciência do oculto “a balança espiritual”. Sobre um dos seus pratos encontra-se um “coração aberto” para as necessidades do mundo exterior; sobre o outro, “firmeza interior e perseverança inabalável”.

A quinta condição é a perseverança na obediência a uma decisão uma vez tomada. Nada poderá levar o discípulo a afastar-se de uma decisão tomada, a não ser pela simples constatação de haver incorrido em equívoco. Cada decisão é uma força, e mesmo que essa força não tenha êxito directamente no lugar para onde é dirigida, actuará à sua maneira. O sucesso só é decisivo quando se realiza um acto por cobiça. Mas todos os actos realizados por cobiça são destituídos de valor perante o mundo superior. Aqui importa unicamente o amor a uma acção. Nesse amor deverá esgotar-se tudo o que impele o discípulo a uma acção. Assim, ele também não cansará de sempre tornar a converter uma decisão em acção, por mais frequentemente que a mesma lhe tenha sido mal sucedida.

A sexta condição é o desenvolvimento do sentimento de gratidão perante tudo o que é proporcionado ao ser humano. Deve-se estar cônscio de que a própria existência é um presente de todo o Cosmo. Quanto não é necessário para que cada um de nós possa receber e viver sua existência! O quanto não devemos à Natureza e a outras pessoas! A esses pensamentos deverão ter inclinação os que almejam a disciplina do oculto. Quem não conseguir abandonar-se a eles não será capaz de desenvolver, dentro de si, aquele amor universal, necessário para chegar à cognição superior. Algo que eu não amo não se me pode revelar. E cada revelação tem de preencher-me de gratidão, pois através dela me torno mais rico.

E por fim, diz-se: todas as citadas condições têm de se unir numa sétima: compreender a vida incessantemente no sentido em que as condições o exigem. Por meio disto, o discípulo cria a possibilidade de dar à sua vida um carácter uniforme. Cada uma das suas manifestações de vida estará em harmonia recíproca, e não em contradição. Ele estará preparado para a calma que deverá alcançar no decurso dos primeiros passos na disciplina do oculto.

Este olhar sobre a nossa caminhada de auto-educação esclarece-nos que nós humanos somos imperfeitos, mas também temos capacidade de desenvolvimento. Podemos aprender cada vez mais humanidade, desde que estejamos dispostos a pensá-la, senti-la, praticá-la e querê-la, sempre de novo. Ao criar acesso a estas fontes, adquirimos cada vez maior saúde nos três níveis da nossa existência física, anímica e espiritualmente. Além disso, adquirimos também uma postura ética salutar, propícia para o desenvolvimento da humanidade em todos os domínios da nossa vida.

Que me seja permitido mencionar, neste contexto um livro recém-publicado, que descreve pormenorizadamente esta postura ética saudável com o título: “Rede Humanidade”.

Michaela Glöckler
Tradução Fritz Wessling

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